Eu peido...

Embora esteja aderindo (bem aos poucos) aos contatos virtuais, sou adepta mesmo é do corpo-a-corpo, cara-a-cara, olho-no-olho, abraço, beijo, sexo, salivas, suores, gargalhadas compartilhadas e lágrimas também!
Eu tenho rinite, ranho, tatu... Pêlos no sovaco, espinhas na cara, fico menstruada, suada, tenho TPMs (terríveis) e peido!

Fico feliz de encontrar artistas que admiro e também pensam assim: Rubem Fonseca é um deles. Ele dá o devido valor aos nossos fluídos corpóreos no seu livro “Excreções, Secreções e Desatinos”. É curioso, irônico, cômico e muito inteligente, leiam!

Eu sei, também, apreciar o que é alinhado, mas o que eu gosto é do inacabado, do imperfeito...

Como diz o Lenine na sua linda música “O que é bonito?”. Este que, aliás, é pra mim um dos grandes cabeções do nosso país hoje em dia. Ele faz músicas boas e letras lindas e muito dramáticas... Acho o pensamento dele tão teatral quanto socialista (não é em vão que ele tem esse nome!) Suas letras são bem realistas e, ao mesmo tempo, são pura poesia. Adoro!

Chico Buarque, que considero outro grande cara (que além de letrista é autor de teatro!) já escreveu, para o musical infantil “O Grande Circo Místico” uma música que diz ...Só a bailarina que não tem... Ela não tem piolho, não tem marca de vacina, não tem calcinha velha, não tem primeiro namorado, não tem frieira, não tem coceira... Ela não tem o que todo mundo tem.

E o mais doido de tudo isso é que associamos estas idealizações às crianças... Logo elas que são tão sem frescura, tão simples e tão bichinhos, que se sujam, suam, têm remelas, ranhos, tatus, cracas nas dobrinhas, fazem cocos fedidos e xixi aos montes, que babam e que gritam, que choram, que vomitam... E que não estão nem um pouco preocupadas com isso! Adultos sim é que se preocupam e se importam e que idealizam o mundo, as coisas, as relações... Nós queremos pessoas perfeitas, princesas, bailarinas, cavaleiros, príncipes... E muitas vezes sem nem perceber ainda queremos acreditar (e que os outros acreditem!) que não temos defeitos, ranços, chatices, fedores, manias...

Eu prefiro os sapos aos príncipes, sou mais fã da Fiona do que da Cinderela e bem mais do Shrek do que daqueles que vem no cavalo branco, sabe? Eu gostava bem mais do Remendão do que da Xuxa!

Não quero dizer que não tenhamos que dar asas à nossa imaginação, que inventar mundos paralelos, que criar situações, que idealizar coisas, muito pelo contrário! Criemos!!! O problema começa quando misturamos mundos e nos iludimos com a nossa vida e com a vida dos outros... Sei que é impossível separar os mundos da realidade e da fantasia... Aliás, qual das realidades mesmo?! Mas pensar e falar nisso é valido e muito saudável!

Já faz tempo que tento me esforçar neste sentido e não acho fácil. Parece que é algo que temos que aprender de novo, sempre! Rubem Alves, que escreve tão bem sobre aprender, diz que guardamos tudo o que aprendemos dentro da nossa “caixa-de-ferramentas” ou da nossa “caixa-de-brinquedos”. E que deveríamos abrir muito mais a última... Sim, abramos!

Eu pretendo brincar sempre, e muito!!!

Inclusive de Princesas (que não peidam)!